saberemos merecer…?

Aqueles de quem gostamos
Como irmãos;
Os que de nós cuidam
Como anjos;
Os que nos deixam ser pais
Dos seus filhos,
Os que sendo filhos de outros
Se tornam nossos;
Os que não sendo nossa carne
Se tornam nossa alma;
Os que a distância não tira
Do pensamento;
Os que não nos esquecem
Apesar de tudo;
Os que sendo crianças, nos levam pela mão
E penduram no pescoço;
Os que nos procuram gostosamente
Para matar saudades;
Os que nos acham capaz
De ajuda;
Os que nos ouvem e
Esperam ouvir;
Os que nos respeitam e
Nos defendem;
Os que nos olham
Com um sorriso no olhar;
Os que connosco soltam
Sentidas gargalhadas;
Os que nos adivinham lágrimas serenas
Choros do coração;
Os que nos abraçam ternamente
Vendo-nos a alma a transbordar;
Os que nos descobrem, acolhem
Surpreendem e encantam;
Os que gostam de nós, independentemente
Do que temos para dar;
Os que não se zangam pelo
Que fica por dizer;
Os que nos dão tudo em que
Precisamos acreditar;
Os que não podemos desiludir…
Os nossos amigos!

tempo(s)

Tempo, o nosso, o dos outros...
Tempo de ontem, de hoje, do amanhã...
Tempo que vai e não volta...
Tempo que não suporta corridas vãs...
Tempo que a uns falta e a outros sobra...
Tempo cuja memória tudo cura...
Tempo que não apaga o verdadeiro sentir...
Tempo de reflectir, aprender, acreditar...
Tempo para tudo, para nada...
Tempo de sonho, de ilusão...
Aqui encostada ao tempo...
A ver a vida a passar...
Deixo um tributo ao tempo...
Tempo de tempos...

o que diz...

Mostras a cor do teu
vagabundear...
Mas de que cor são os teus olhos
vagabundo?
Deixas que a alma fale
um pouco...
Mas que te diz o coração
vagueante...?

impossibilidades

Não gostar da beleza natural
das coisas simples...
Da suprema graça das coisas
delicadamente requintadas...
Impossivel...
Aceitar a neutralidade da cor
com que me pintaram...
A banalidade que se me colou e
teima em não partir...
Impossivel...
Sonhar-me pintada a aguarela
desenhada em tons sépios...
Impossivel...

Criaram-me mero esboço de carvão...

Lisboa, a minha...

Lisboa velha cidade
velha amiga
Lisboa velha senhora
minha mãe
Lisboa que vi logo
que nasci
Lisboa quem pode
não gostar de ti
Lisboa de quem falam
sem saber
Lisboa quem te vê
tem de te amar
Lisboa quem te olha
tem de sonhar
A Lisboa de outras eras
de outros tempos
Lisboa velhas naus
esperanças tantas
Lisboa que então viveu
um sonho lindo
Lisboa muito mais conheceu
que aqui não digo
Lisboa acordou um dia
e viu espantada
Lisboa cidade livre
cidade amada
Lisboa cravos vermelhos
esperanças tantas
Lisboa que então viveu
um sonho lindo!

cansada...ou já o estava?

Rugas, são linhas de vida sulcadas no rosto,
Cabelos grisalhos, são linhas de tempo pintando a cabeça,
Olhos, são linhas abertas que espelham a alma,
Sorrisos, são linhas a falar pelo coração,
Mãos, são linhas entrelaçadas em comunhão,
Vida,é uma linha que em cada mão revela o seu fim,
Sonho, é uma linha infinita do pensamento...

Linhas...de linhas...

passo o dia a sentir que...

Queria tanto ser poeta...
Porque ser poeta é aproximar as palavras
dos sentimentos.
Queria muito ser poeta...
Porque diria, tudo o que em mim nasce,
e cresce...
Pudesse eu ser poeta...
E não calaria tudo o que sinto, de forma
assim tão forte...
Tanto que queria ser poeta...
Saberia falar, com a força de
um grito...
De ternura, de amizade, de
encantamento...
Ah! Como eu queria ser poeta...!

procura

Repara,
nessa pequena janela que abriste
no céu...
Onde se foi enroscar, aromática trepadeira,
salpicada de flores silvestres...
Nela se esconde um rouxinol de cristalino
canto...
Recatadas portadas verdes,
abriram-se...
Delicadas cortinas bordadas de ilusão,
desviaram-se...
Um nariz batatinha de palhaço, esbugalhou-se
contra o vidro...
Uma alma, surpreendida, curiosa, descobriu-te
a vaguear...
Perante a intensidade do olhar, do sentir,
abriu-se a janela...
Guardava um sorriso disfarçado, carente de
partilha...
Estendeste-lhe o desafio do
infinito...
Grata, honrada mas receosa e
assustada...
Deu-te a mão e em partilha amiga,
deixa-se ir...

risos

Sinto intensamente as mágoas,
Sofro-as de forma tristemente dorida.
Mas abandono-as serenamente,
sem ódios.
Liberto-me e volto tranquilamente a mim mesma.
Nasce-me o sorriso no olhar,
Rasga-se-me o riso no rosto,
Soltam-se-me gargalhadas no peito.
Tocam-me laivos de simpatia...
Mas não um certo encantamento sedutor da tristeza...

Participo em julgamentos de vidas,
Tantas vezes decomponho culpas,
Mostro-lhes desgraças,
Lembro-lhes o sofrimento e a dor.
Arranco-lhes lágrimas escondidas,
Compreendem-me.
Mas também os faço rir,
De mim, deles próprios, dos nossos erros...
O riso é uma arma, amigo.

pontos de partida

Escuta o ritmo de jazz...
Deixa-te invadir pela intensidade do perfume das flores de laranjeira em noite estrelada...
Permite que o escuro da noite te traga memórias...
Desafia o sonhar dos sentidos...
Agarrando os teus pontos de partida...
Duas linhas distraídas em circulo...
cruzaram olhares...