A alma a transbordar em lágrimas, de alegria ou de tristeza... O coração a bater dentro do peito, de medo ou de paixão... O cintilante brilho de um olhar, de mágoa ou de deslumbre... A mão estendida, em dádiva ou pedido... Ah, quantas contradições silenciosas.
A copa de um pinheiro, Vivia enciumada. Uma vida inteira a olhar, A adorar a beleza daquela terra... As raízes, essas, penetravam-na... Podiam amá-la livremente... Um dia, um ramo não se conteve... Ousou uma carícia... Baixou-se e beijou-a...
Acordou a madrugada surpreendida, Pela força de um grito de revolta... A esperança, o sonho, a liberdade... Da memória do grito, mero murmúrio... Tantos ideais ainda por cumprir... Murcho, mas não morto cravo vermelho. Permaneces vivo, Abril no meu sentir...
Encontrei um olhar vagabundo... E apesar dos pesares, com sorte... Ter estrela do norte cintilante, Bússola toda sorridente, E não havendo, duas sem três... Um sol radioso há-de brilhar... E tudo o mais em seu redor... Ah, afastem-se tristezas... Deixem-no ser feliz, sorrir, sonhar...!
Não sei possível desenhar fronteiras no sentir... Ao sentir não se conhecem os limites... Sabemos que o nosso sentir confina com o dos outros... Respeite-se pois tudo o que outros sentem... Mas permita-se que outros sentires... Nos invadam o mais fundo da alma... Nos deixem sonhar e façam sorrir... Derrubando todas as " fronteiras"...!
Do corpo e da alma, não se cuida com passos de mágica... Quem nasceu, cresceu e ficou bonito... Já teve um toque de magia... E o tempo, o inevitável passar do tempo... Não tolera excessos, exige sacrifícios... Se os não fizermos por nós... Façamo-los por aqueles que nos amam...
O sentir, percebe-se pelos sentidos. Concebe-se, Nota-se, Reconhece-se, Toma-se-lhe consciência, Estranha-se, Permite conjecturar, Experimenta-se, Impressiona, É persuasivo, Quase ciência... E não é opinião ? Modo de ver ? Parecer ? Considera-se, Avalia-se, Julga-se, Dá-se-lhe nome, Conhece-se intimamente... Querem mais comprovada teoria...? Haver quem diga que há "Teorias improváveis de provar, porque dependem directamente do sentir..." E olhem, a minha teoria preferida... é a do AMOR...
Era uma vez uma história de quem estava a sonhar... Duas maninhas gémeas, por ali a passear... Tinham ambas o sonho de ver a festa do mar... Mas andavam, andavam e nada de o encontrar... Já mortas de cansaço, sentadas a descansar... Surge então o mano velho, que as vinha procurar... Pegou-lhes pela mão e levou-as a passear... Assim sentados na areia, ouvindo-se no vaguear... O sussurro da conversa, a ternura do olhar... Aquele abraço fraterno, não era coisa de inventar...
Ser toda, por inteiro, No muito, no pouco, No nada... Toda, sem mais,sem menos, No muito, no pouco, No nada... Pondo-me quanto sou, No muito, no pouco, No nada... Ah, esta incessante busca de Preencher vazios... No muito, no pouco, No nada...
Já vos não vejo em mar multidões... Já vos não oiço os cânticos, a oração... E agora... Gentes, povos, credos, religiões... Já não tendes que vos una...?
Se soubesse usar da palavra... Se pudesse pedir a palavra... Se alguém me desse a palavra... Ousaria o sentir pela palavra...? Ditas,escritas, lidas sonhadas... Que importa... Se sois a voz do meu sentir... Se tanto vos sinto palavras...
Era uma vez um príncipe, De um reino muito pequeno, Que se encantou por amor, Tanta elegância e beleza... Tomou-a, fê-la princesa... Príncipes e princesas e muito para contar... Afinal tudo tem fim... Felizes para sempre... Só os príncipes e princesas Das histórias de encantar...
Abençoados mestres na arte do sentir... Podem desenhar simples esboços a carvão... Mas não resistem à paleta da vida... E pintam sempre alguém de mil cores...
Não pergunto para onde vou, deixo-me ir... Basta-me saber que não vou por onde não quero ir... Não preciso fixar caminhos já trilhados... Porque sonho estes meus passos, melhores que os passos dados...
No topo da imensa falésia, Vislumbra-se o casario aconchegado, A espreitar um mar que é mais azul... Percorram-se as ruelas bem antigas, De casas brancas bordadas a azulejos, Veja-se o rosto tisnado do pescador, Os corpos em tradição de veraneio, A pequenez do hotel mais a sul, Quando o espreita não muito longe, A beleza imponente de um convento... Que guardo em pequeno memorial...
Na tranquilidade do sono, uma ausência... O espírito, malandreco, escapuliu-se... Andou em passeio pelos sonhos... Não escapou, foi apanhado... De volta trouxe companhia, E ambos sussurrando em sonho, Brincavam, chamando baixinho... Pequenina, pequenina, pequerruchinha... Acorda, sou eu... o gato das botas...
Em branco símbolo de apelo à paz, Missionário de Cristo filho de um Deus, Crente seguidor de uma Virgem mãe, Peregrino de gentes e de mundos, Beijando terras em humilde cumprimento, Em aceno de fé a tantos povos, Capaz de pedir perdão em gesto redentor, Vergado ao peso da sua cruz, da sua dor, Arrastando-se em solidário sofrimento, Na fraqueza do corpo, a força do espírito, Descansou enfim do seu longo caminhar, Exemplo de vida para além da morte.
Aqui enroscada no silêncio... Deixando divagar o pensamento... Calando o pulsar dos sentidos... Permitindo a ilusão do sonho... Estendendo mão mendiga de outra mão...
Rostinho lindo de criança, Rosto marcado de vida, Rosto enrugado de tempo, Rosto recordação de memória, Rosto em rubor de sentidos, Rosto sonho de artista, Rosto ilusão de pensamento, Rosto também é espelho... da alma...